Numa das minhas muitas viagens à África do Sul, nos finais dos anos oitenta, antes da libertação de Nelson Mandela, resolvi num sábado ir a Sun City. Costumava ficar no Landrost Hotel, depois Holiday Inn, em Joanesburgo. Ao fim de semana percorria os locais turísticos, tipo Centros Comerciais (East Gate, Sandton), Gold Reef City, o Museu, que até era perto do hotel. Naquele dia resolvi ir mais longe (400Km?) até a um protectorado chamado Bophutatswana onde estava esse paraíso do jogo e do espectáculo. Era mais ou menos no meio do deserto que estava aquela cidade artificial, e lá gastei uns rands nas slot machines, vi as vistas e à tarde regressei a penates.
Ao atravessar uma cidade no caminho de regresso excedi a velocidade limite de 50 Km/h, na avenida principal (ía a 62 Km/h). Fui convidade pelos agentes, de aspecto alemão, a ir ver a foto com a indicação da velocidade, a uma roulote umas centenas de metros antes, onde no sistema informático identificaram o dono do carro e a morada, e me entregaram o papel da multa. Tinha 30 dias para pagar senão o carro seria apreendido. Lá continuei viagem sem mais percalços e cheguei já de noite ao hotel. Ao jantar, no excelente restaurante do hotel, puxei do papel para analisar o conteúdo e tropeço no item raça (race?) e estava lá manuscrita uma palavra que eu lia BLACK. Li e reli e de regresso ao quarto olhei-me bem ao espelho. De facto estava queimado da praia (estávamos em Setembro), também tinham verificado que era português, e comecei a achar que tinham feito de propósito para me chatear. Nunca me dei bem nos contactos com os polícias que me mandam parar na estrada. Tentei ligar para a esquadra, mas qual?, e tropeçava num linguarejar estranhíssimo, o afrikaans, misto de alemão e holandês, completamente incompreensível. Desisti e fui dormir. Na 2ª feira, não resisti a contar a história na empresa onde estava a outro português residente há muitos anos naquelas paragens. Pediu-me o papel e depois de ler esclareceu, a rir, aqui diz BLANK, que é branco em afrikaans. Foi assim que voltei a ser branco outra vez, definitivamente!
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