Entrevista ao meu Pai
Pergunta:
Há alguém da família que tenha estado na guerra colonial? Em
que sítio?
Resposta:
Na nossa família apenas o teu tio avô António (o tio Nito),
irmão da avó Teresa, esteve no serviço militar em Moçambique, entre meados de
1960 e 1962, mas isso foi antes de haver guerra nesta antiga colónia. Quando
ele lá estava iniciou-se a guerra em Angola. Ele esteve colocado no norte de
Moçambique, em Nampula, Mocimboa da Praia e Mueda, pertencia a um destacamento
de engenharia e andou a construir pontes nessas zonas, que foram logo
destruídas quando se iniciou a guerra.
Quando eu fui para a tropa, em outubro de 1974, portanto
depois do 25 de abril, já não se previa ser mobilizado para África, porque
estavam em curso negociações para a descolonização e independência das
colónias, que então eram chamadas de provincias ultramarinas, terminando a
presença de militares portugueses nesses países.
Pergunta:
Ele escrevia muitas vezes? Preocupavam-se quando o correio não
chegava?
Resposta:
Recebíamos muitas cartas e era em família que elas eram
lidas. Contavam como era viver lá tão longe em sítios tão diferentes. De vez em
quando havia atrasos no correio e ficávamos um pouco preocupados,
principalmente os pais dele.
Pergunta:
Quem eram as “madrinhas de guerra”?
Resposta:
As madrinhas de guerra eram umas senhoras voluntárias que se
correspondiam com os militares para os manter animados e trocarem cartas onde
podiam exprimir as suas preocupações e assim evitarem as depressões provocadas
por viverem em situações de grande risco para a própria vida e terem que
participar em combates, com muitas vítimas mortais e feridos das duas partes.
Pergunta:
Os jornais e a rádio davam muitas notícias da guerra? Já
havia televisão?
Resposta:
Geralmente não havia notícias da guerra. Normalmente era uma
pequena frase com as baixas (mortes) nos combates, e dizia-se que sempre em
número muito inferior à realidade.
A televisão surgiu em 1957 e em meados dos anos 60 era
normal haver programas pelo Natal, gravados nessas colónias, destinados às
mensagens dos militares para as suas famílias, que eram sempre momentos muito
tristes e de grande ansiedade.
Pergunta:
Lembram-se de algum episódio relacionado com a chegada ou a
partida de militares para a guerra?
Resposta:
Quando o tio regressou de Moçambique em 1962, eu tinha 12
anos, viémos esperá-lo ao cais de Alcântara, porque ele vinha num navio. Foi a
primeira vez que eu vim a Lisboa. Veio o carro do meu pai com os outros familiares e eu
vim numa camioneta de caixa aberta para levar uns caixotes de madeira que ele
trouxe com a sua bagagem e várias coisas que lá tinha comprado, incluindo
artesanato. Algumas dessas peças ainda estão lá em nossa casa. A curiosidade é
que chegámos a Lisboa ao fim do dia e dormimos essa noite dentro dos carros num
jardim perto do cais, onde hoje são as Docas, regressando todos no dia
seguinte.
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