terça-feira, março 29, 2005

Façam o favor de sair

(e de passar para o novo endereço http://pontedapedra.blogspot.com/)
1980 foi um ano de muitas crises. Transferido para Lisboa, afastado dos "bons ares do Barreiro", vivia o emprego inseguro na Av. da Liberdade, num período de euforia prenunciador da idade das trevas que se aproximava. Íamos então almoçar muitas vezes à Costa de Caparica (ao Barbas?), um grupo de gazeteiros encartados, o Joãozinho, o Américo, etc. etc. Uma dessas vezes regressávamos já atrasados, chuviscava um pouco, eu ao volante do R16 de serviço e, aí por alturas da Joaquim António de Aguiar com a Artilharia Um, olho para o relógio... já passava da hora de ir fazer um transbordo de crianças para o Instituto Alemão, compromisso que envolvia diversos outros filhos. Não me restou outra solução senão apelar à melhor compreensão dos outros quatro ocupantes para passarem, na qualidade de peões, a deslocarem-se para o destino, perto do Tivoli. Quanto a mim lá fui voando baixinho, Rua de S. Bento abaixo, transportar as criancinhas para o Campo de Sant' Ana.

segunda-feira, março 28, 2005

Viagem à roda do meu nome: De carrinha.

Fiz a primária num colégio chamado Jardim Infantil Luso-Suíço; o mais parecido com mandar as filhas estudar para a Suiça que os meus pais arranjaram. Ia para a escola na carrinha do Sr. Oliveira que tinha como "hospedeira" a D. Arlete (a quem todos nós chamávamos de "Arrelete", sabíamos lá dizer Arlete. ainda hoje não sei se é assim que se escreve, deve ser francês).

O Sr. Oliveira gostava de mim, apesar de eu ser uma terrorista, e convidava-me a sentar à frente, ao pé dele. Eu assim fazia, quase sempre, porque era uma grande distinção. O Sr. Oliveira também tinha a particularidade de, sempre que a viagem ia adiantada em relação aos horários impostos, parar no jardim em frente ao cemitério dos Prazeres e deixar-nos ir brincar por uns 20 minutos, sob a vigilância dele e da D. Arlete. Ele não queria ser, nem era, só o motorista da carrinha. A carrinha do Sr. Vieira nunca teve metade da piada.

Todos os dias, de manhã e à tarde e durante anos a fio, quando eu entrava na carrinha o Sr. Oliveira dizia "Olá Inês, estás cá outra vez?"

quinta-feira, março 24, 2005

Quem gosta?...

... do Bolo (de) Que o Pai Não Gosta?
Gostam todos os que já comeram este bolo, em forma de pão grande, feito com a massa do folar da Páscoa, e que a Avó(?) decidiu denominar desta maneira devido às grandes fatias do mesmo que o Pai consumia (vais com as ovelhas? perguntava ela na brincadeira). O que é certo é que se começou a comer todo o ano, sempre que lá vamos. Dizem que é muito bom com queijo (cruzes canhoto!) e em torradas. Entretanto a Avó continua a abastecer-nos dele, em quantidades apreciáveis, à hora de saída para o regresso, incluindo também a tortazita de chocolate, ou o que dela resta, as laranjas e outras especialidades.
Para quem não sabe, ou não se lembra, vou enumerar o que é/era costume trazer, para além desse bolo: rojões, leitão (o que sobra), torta de chocolate ou com recheio de ovos, nozes, laranjas, pêssegos (em conserva), favas e ervilhas (descascadas e congeladas), coelhos (arranjados e congelados), marmelada, geleia de marmelo, envelopes (recheados), feijão maduro, cerejas, tomates (inteiros congelados), lombo de porco, costoletas, farinheiras, chouriços de carne, e tudo o mais de que não me lembro agora.

segunda-feira, março 21, 2005

É de ir às Almas...

... comer leitão, que é pequeno, tenrinho e bem temperado. Também fomos verificar o desaparecimento da casa das "gafanhotas", onde estava o barbeiro, mesmo no centro da... cidade! Ficam as memórias de jogar ao "abafa", com o Vasco, nos degraus em frente ao alfaiate, pai dele, nas tardes de verão, ou de ver pôr a brôa a cozer, no forno a lenha, lá dentro daquele meandro de níveis e compartimentos (já tinha sido uma pensão), ou da argumentação, com o Toninho?, de quem era mais rico, que para o efeito tinha sentido pejorativo.

quarta-feira, março 16, 2005

Monte Kilimanjaro sem neve e gelo


O monte Kilimanjaro está sem neve e gelo pela primeira vez nos últimos 11 mil anos. Segundo a organização Climate Change, que distribuiu a fotografia aos ministros da Energia e do Ambiente que estão reunidos em Londres para discutir as alterações climáticas, este facto confirma a rápida mudança em curso sobre o maciço vulcânico, que tem 5892 metros e está situado entre o Quénia e a Tanzânia. Posted by Hello

Viagem à roda do meu nome: O chinês

Tinha eu uns seis meses e o meu primo Filipe quase dois anos. Fomos a casa dos meus tios e o Filipe, habituado a ser a coqueluche por ser o mais pequenito, começou a ficar muito incomodado com a atenção que me era dispensada. Preocupado com o seu território, tentou perceber como é que os adultos me chamavam e, às tantas, arriscou indo perguntar aos pais: "aquele bebé chinês hoje dorme cá?"

[isto é o que me contam porque eu não me lembro muito bem]

Estamos no Governo

Pois é, a Zeca e a Xanocas lá estão outra vez em missões de serviço público. A contribuir para a quota das mulheres, digo eu, machista por deformação. Até num Governo de mulheres lá teríamos também uma ministra, estamos cercados. Quanto aos Baptistas estão-lhes sempre reservadas tarefas na área da logística caseira: Por detrás de uma grande mulher está sempre um grande homem?

terça-feira, março 15, 2005

A chegada ao Porto


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Em 1852, com a estrada Lisboa-Porto finalmente passível de ser utilizada sem grandes problemas - ainda em 1842, já com a nova estrada em construção, existiam troços "aonde a água chegava à barriga das cavalgaduras, por espaço de muitas braças" (uma braça correspondia a 2,2 metros) -, foi possível iniciar o serviço de Mala-Posta entre as duas principais cidades do Reino. Inicia-se assim, em 1855, a carreira da Mala-Posta entre Lisboa e o Porto, a única cuja exploração proporcionou, de facto, resultados proveitosos do ponto de vista económico.
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Texto completo aqui

De Lisboa a Coimbra


Mala-Posta de Lisboa a Coimbra, 1798.
(Reconstituição a óleo por J. Pedro Roque, 1968) Posted by Hello

segunda-feira, março 14, 2005

Ponte a pé

Lá estivémos a abrilhantar o evento. Para mais pormenores ver aqui.

sexta-feira, março 11, 2005

Mala-Posta de Ponte da Pedra

Vejam aqui, na última linha, uma referência ao local que esteve na origem do nome deste blog. Parece que a Mala-Posta é anterior à Ponte da Pedra, mas passou a ser referenciada pela ponte, após a sua construção. Continuarei a investigar...

quinta-feira, março 10, 2005

Entrar no pesadelo

Primeira porta: Noite de domingo, depois de jantar, saíu de mota, a roncar como de costume. Toca o telefone: o seu filho teve um acidente. Quando cheguei estava estendido no chão, ainda com o capacete, no meio do cruzamento. Voou por cima daquele carro. Eu a espreitar pela viseira: Como é que estás? Estou bem pai. Era verdade!

Segunda porta: Olhava com ansiedade para o écran. Estávamos com aqueles presságios terríveis. O médico calado procurava em vão a vida, num coração a bater, como nos meses anteriores, em sessões em tudo idênticas. Não havia! Prometemos voltar, e voltámos, passados uns tempos, a ver um ponto a palpitar naquele écran, recriando as nossas esperanças.

terça-feira, março 08, 2005

Amor aos pedaços


Chico Buarque (1978)

1. Feijoada completa (Chico Buarque)
2. Cálice( Chico Buarque - Gilberto Gil) Participação: Milton Nascimento
3. Trocando em miúdos (Chico Buarque - Francis Hime)
4. O meu amor (Chico Buarque) Interpretação: Elba Ramalho / Marieta Severo
5. Homenagem ao malandro (Chico Buarque)
6. Até o fim (Chico Buarque)
7. Pedaço de mim (Chico Buarque) Interpretação: Zizi Possi
8. Pivete (Chico Buarque - Francis Hime
9. Pequeña serenata diurna (Silvio Rodriguez)
10. Tanto mar (Chico Buarque)
11. Apesar de você (Chico Buarque)

Pequenos nadas


Sérgio Godinho - Pano-Cru (1978)

1. A Vida É Feita de Pequenos Nadas
2. O Primeiro Dia
3. O Galo É o Dono dos Ovos
4. Balada da Rita (do Filme "Kilas, o Mau da Fita")
5. Venho Aqui Falar
6. Lá Isso É
7. Feiticeira
8. O Homem-Fantasma
9. 2.o Andar, Direito
10. Pano-Cru

segunda-feira, março 07, 2005

Almas censuradas


José Mário Branco - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (1971)

1. Abertura (Gare d'Austerlitz)
2. Cantiga para pedir dois tostões
3. Cantiga do fogo e da guerra
4. O charlatão
5. Queixa das almas jovens censuradas
6. Nevoeiro
7. Mariazinha
8. Casa comigo Marta
9. Perfilados de medo
10. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

sábado, março 05, 2005

Discos com histórias

São os do José Mário Branco, do Sérgio Godinho e do Chico Buarque, que adiante veremos. Recusando destinos traçados e controlo por poderes materiais, à procura de mandar na vida e de ser feliz. Muitas das suas canções pertencem-me portanto, os discos deixei-os em outras vidas.

sexta-feira, março 04, 2005

O outro "Malandro"

"O Malandro"
Kurt Weill - Bertolt Brecht (versão livre de Chico Buarque 1977/78)

O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé
O garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português
O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor
Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um trambique/De cem mil réis
O usineiro/Nessa luta
Grita(ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Brasil/Do Brasil
Nosso banco/Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador
Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais o/Que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber
A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem chilique
Contra o Brasil/Do Brasil
O usineiro/Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador
Este chega/Pro galego
Nega arreglo/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?
O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do garçom
O garçom vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação

Outra coisa

Estava a contar com uma coisa mais negra, dramática e violenta, com um humor essencialmente irónico. Era assim que imaginava a representação e acho que o filme também transmitiu essa imagem.

Acabou por ser um bocado revisteiro. Eu gostei, mas como se fosse outra coisa que não a "minha" Ópera do Malandro.

[Vamos lá ver se consigo pôr isto a tocar. Copiei quando passou por aqui.]

O Malandro revisitado


Letras e Músicas de Chico Buarque,1979

Melhor que nunca!
Só é pena que a audiência já tenha mais de 50, sinal de que o tempo não pára.
Ah, o amor! Como anda arredado das nossas vidas, ocupadas com coisas fúteis. E o desejo, onde se alimenta? Sim, porque o pecado mora sempre ao lado!

Da Ópera do Malandro, diz-se que é o melhor espectáculo musical: «Tem tudo, humor sem ser grotesco, romantismo, realismo, sentido de oportunidade, política. Esta é que é a Arte Total de Wagner, a total kunst ...», e ainda uma espécie de oráculo sobre os tempos vindouros: «Ali se vê o passado a ser enterrado pelo futuro que se adivinhava – aquele hedonismo marginal a ser substituído por outros ‘malandros’ executivos, com mais poder e mais incompetentes».