quarta-feira, outubro 11, 2006

A Estante

No meu quarto, desde há mais de 40 anos, estava uma estante cheia de livros antigos, da minha avó Teresa, livros de cow-boys, de quadradinhos, jogos da Majora, e outros recheios que foram fazendo as delícias dos miúdos que por ali iam passando. Construída em aglomerado de madeira, de má qualidade, envernizada, sempre a considerei um grande mamarracho. Um dia destes, estava a apreciar os melhoramentos recentes no primeiro andar, e disse à minha mãe: "Porque é que não a deitas fora?" e ela surpreendida: "Não te importas?" Pensava que eu tinha uma qualquer ligação especial à "antiguidade" que tem suportado a passagem das sucessivas vagas de descendentes. Ela (como eu) nunca tinha gostado daquela peça, que o meu pai tinha mandado fazer a um qualquer carpinteiro amador, apostando no baratucho, mediante uma foto de uma revista que a minha mãe tinha obtido. Lembro-me vagamente da expectativa criada na altura e da minha desilusão (disfarçada, os tempos eram outros) quando o móvel chegou e eu percebi que nunca iria ter outra estante melhor, naquela casa. O equívoco durou este tempo todo e acabou agora, quase por acaso, quando se tornou definitivamente insuportável aquela estante.

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